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O Fantástico mostra agora casos de adoções irregulares no sertão da Bahia. Não só em Monte Santo, onde nossa equipe acompanhou a história de Silvânia, a mãe que teve cinco crianças tiradas de casa. O drama de Silvânia pode estar chegando ao fim. Mas, em outras cidades, muitas mulheres já perderam a esperança de rever os filhos.

Os rastros da quadrilha estão espalhados pela região. Pelas cidades, pelas roças.

“Esse filho que você deu tinha que idade?”, pergunta o repórter.

“Quatro meses”, responde a lavadeira Lúcia Moura Araújo.

“E você nunca mais teve notícia?”, indaga o repórter.

“Não. não tenho notícia. E isso já tem dois anos”, declara Lúcia.

Lúcia foi enganada por uma das golpistas que agem no sertão da Bahia. A promessa era não perder o contato com o filho. “Foi um acordo. Ela iria trazer a criança para a gente ver, mas ela nunca trouxe”, diz Lúcia.

Lúcia mora em Quijingue com os dois filhos mais velhos. Segundo as investigações, Quijingue forma o quadrado de adoções irregulares com Cansanção, Monte Santo e Euclides da Cunha.

A Justiça ainda não sabe ainda quantas crianças foram levadas de forma ilegal dos quatro municípios. Mas só em Quijingue, os moradores calculam que pelo menos 20 mães entregaram seus filhos recém-nascidos a pessoas desconhecidos.

Maria da Glória é uma delas. Foi convencida por intermediários a dar a filha recém-nascida a um casal que ela nunca viu.

“Você assinou algum documento pra entregar essa filha para o casal?”, pergunta o repórter.

“Não”, responde Glória.

O atual juiz da região explica que a criança não chega a ser registrada quando nasce. Só depois de entregue à quadrilha ela ganha o registro no cartório.

“Neste registro constariam os nomes já daqueles envolvidos no esquema”, diz o juiz Luís Roberto Cappio. Ele examina mais de 200 processos suspeitos. A maior parte aconteceu na gestão anterior, do juiz Vitor Manoel Xavier Bizerra. Foi ele quem mandou retirar à força os filhos de Silvânia e Gerôncio, na cidade de Monte Santo, como o Fantástico já mostrou.

Nesta semana, tentamos de novo falar com Vitor Bizerra, mas sem sucesso. Há um mês ele não aparece no atual trabalho, no Fórum da cidade de Barra, no oeste do estado. Fomos informados de que o juiz pediu afastamento alegando que iria estudar.

Vitor Bizerra está inscrito em um curso de prática jurídica. As aulas do grupo de juízes do qual ele faz parte ocorrem no salão do júri, no Fórum de Senhor do Bonfim, no norte da Bahia. Mas no segundo dia de aula do curso, Vítor Bizerra não apareceu. E a ficha de frequência mostra que ele também faltou à primeira aula.

Em 2009, o juiz Bizerra atrasou por três horas um voo entre Salvador e Rio. Ele ficou sentado na poltrona do avião enquanto os passageiros se revoltavam. Queria viajar levando uma quantidade ilegal de munição para pistola.

Mais recentemente, Vitor Bizerra foi acusado de ocupar, com documentos falsos, terras de uma fazenda, no município de Sento Sé. A denúncia está sendo investigada.

“A Polícia Federal vai atuar diretamente em conjunto com a corregedoria da Bahia e da corregedoria do interior para um maior rigor nas investigações”, diz Francisco Falcão, corregedor nacional de Justiça.

O processo em que Vitor Bizerra tirou, de um dia para o outro, os filhos de Silvânia e Gerôncio, está entre as prioridades do atual juiz da região. “Nos máximo, em dez ou 15 dias eu devo decidir sobre o retorno ou não dessas crianças para o estado da Bahia”, declara o juiz Cappio.

Nesta terça-feira (30), Luís Cappio e Silvânia darão depoimentos em Brasília, na CPI da Câmara que investiga o tráfico de pessoas.

Quem levou para Monte Santo os casais paulistas que estão com os filhos de Silvânia foi Carmem Topschall, já ouvida pelo Fantástico. Carmem é acusada de ser a principal agenciadora da quadrilha de tráfico de crianças no sertão baiano. Voltamos a casa dela, em Pojuca. Mas, desta vez, não fomos recebidos.

Há um ano, por pouco, Carmen não levou o filho de uma mulher. O pai chegou a tempo para impedir que o menino fosse entregue. “São pessoas realmente carentes, que não têm condição de criar, e são induzidas com o dinheiro”, declara a ex-conselheira tutelar Zenaide Oliveira dos Santos.

Mas há quem resista. “Já teve alguém para criar, adotar, mas nunca dei meus filhos, não”, diz Jucilene. Nem a seca, que levou o marido dela a buscar trabalho longe, abala o apego desta família.

“O que você sente por seus pais?”, pergunta o repórter a um dos filho
“Eu sinto muito amor”, diz o menino.

(As Informações são do Fantástico)

 

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