Na salada eleitoral do interior do estado, tem  político colocando o próprio partido na Justiça para tentar sair  candidato, partido acusando filiado de corrupção para tirá-lo do páreo,  militantes de legendas que apoiam a chapa adversária, acordo firmado  dentro de delegacia e até pedido de registro de candidatura, na mesma  cidade, de dois membros de uma mesma sigla.

Enquanto os juízes não decidem os imbróglios e põem  fim às guerras políticas e jurídicas, até 28 de agosto, prazo final para  a sentença dos processos, os eleitores de cidades em que ainda há  indefinição não sabem quem de fato estará na disputa.

Em Senhor do Bonfim, Bom Jesus da Lapa e Jaguarari, a  crise é intensa. Neles, os eleitores veem nas ruas campanha de dois  candidatos do mesmo partido. No primeiro caso, a estrela vermelha do PT  foi impressa na propaganda do deputado estadual Carlos Brasileiro e da  também candidata Maria Gorete Braz.

Devido a uma disputa interna, ambos protocolaram no  Tribunal Regional Eleitoral (TRE) os pedidos de registro de candidatura.  Agora, aguardam a decisão de quem terá o direito de estampar a cara nas  urnas.

Lá, como na maioria das cidades em que as disputas  pré-eleitorais invadiram a campanha, a bronca acaba com o presidente do  partido. No caso do PT na Bahia, o dirigente Jonas Paulo é o alvo.

Ele é acusado pela presidente do partido em Senhor  do Bonfim, Rita de Cássia, de ter atropelado uma decisão tomada pela  maioria dos delegados petistas em uma prévia realizada em junho.

“Está no regimento do partido que a convenção tem  que validar as prévias”, defendeu. Em resolução interna, Jonas Paulo  anulou o resultado e homologou a candidatura de Brasileiro. Ele  justifica que o parlamentar já tinha o apoio do partido em abril, quando  abandonou o comando da Secretaria de Desenvolvimento Social do Estado  (Sedes) para concorrer à disputa.

“A chapa de Carlinhos (Brasileiro) é infinitamente  mais legítima. É mais um esperneio de Gorete, porque ela demorou a se  definir, e ele tinha uma decisão anterior a seu favor”, disse. Os   candidatos não atenderam às ligações do CORREIO.

Em Jaguarari, são os tucanos que trocam bicadas para  decidir quem vai bater asas na eleição. Everton Carvalho tem o apoio da  direção estadual; já Tereza Cristina Pacheco, da municipal. E a  história se repete. “Interviemos, notificamos o diretório, o outro lado  foi ouvido com todo o direito de defesa, foi oferecido a Tereza a vaga  de vice, mas ela negou”, justifica o presidente do PSDB baiano, Sérgio  Passos.

O embate começou porque Tereza vislumbrava a  possibilidade de compor a chapa do petista Antônio Ferreira, e conseguiu  adesões à ideia em sua cidade. Mas Everton convenceu Passos de que uma  candidatura própria seria a melhor saída.

O desentendimento acabou com dois registros de  candidatura. Mesmo caso existente em Bom Jesus da Lapa,  onde o PPS  lançou dois nomes: José Costa e José Cunha.

Acusações Em Candeias, até  denúncias à  Polícia Federal fazem parte da novela em torno da candidatura de  sargento Francisco (PMDB). A disputa começou quando o presidente  estadual do partido, o deputado federal Lúcio Vieira Lima, firmou  aliança com a candidata do PR, Tonha Magalhães, antiga adversária de  militantes peemedebistas na cidade. Francisco decidiu descumprir a  resolução estadual, realizou convenção e homologou seu pedido de  registro de candidatura.

Para tentar reverter a decisão, até o presidente  nacional do PMDB, senador Valdir Raupp, enviou documento à Justiça  Eleitoral pedindo a anulação da convenção. Para engrossar o caldo, Lúcio  abriu um processo de expulsão de Francisco do partido, sob a acusação  de oferecer dinheiro ao PSDC em troca de apoio.

“Ele assinou um documento comprando partidos  políticos com recursos da prefeitura. Esse material está sendo  encaminhado à Polícia Federal, agora cabe a ele se defender”, disse  Lúcio. O candidato, que aguarda decisão do TRE sobre a disputa, nega as  denúncias e as atribui a uma suposta “armação”. “O presidente, antes de  acreditar num absurdo desse, deveria acreditar em seu filiado”, lamentou  o peemedebista.

Batalha O desentendimento entre petistas  acontece também em Juazeiro, onde o ex-prefeito Joseph Bandeira  registrou candidatura à revelia da direção estadual. Ele conta ter  cumprido todos os trâmites legais, entre prévias e convenções, mas um  acordo firmado pela cúpula petista no fim de junho, em favor da  candidatura do atual prefeito Isaac Carvalho (PCdoB), acarretou em uma  resolução interna anulando o que foi decidido na cidade. O PT acabou  registrando também a candidatura a vice de Francisco Oliveira na chapa  de Isaac.

Nesse caso, a questão extrapolou o campo eleitoral e  foi parar na Justiça comum. Na segunda-feira, o juiz da 3ª Vara Cível e  Comercial de Juazeiro, Ednaldo Fonseca Rodrigues, acatou ação cautelar  proposta a favor de Joseph.

“Diretório estadual não pode tudo. Jonas (Paulo) não  tem a escritura do PT da Bahia. Eu vivo sonhando com retaliações, eu  quero a cólera de Jonas, que venha contra mim. Quero ser exemplo na  Bahia da loucura que setores do PT transformaram o partido”, disparou o  candidato.

Jonas Paulo contra-atacou o correligionário: “Joseph  é um filiado que não conseguiu entender ainda a dinâmica do PT. Não  toleramos que haja pendenga judicial. Quem acha que pode brigar com o PT  não pode ser candidato pelo partido”.

Apoio de legendas cria dissidências entre filiados A  falta de unidade entre os membros de um mesmo partido tem como  consequências também o racha na hora do apoio. É o que acontece, por  exemplo, em Bom Jesus da Lapa, onde o PT apoia oficialmente a  candidatura do deputado estadual Eures Ribeiro (PV), mas parte do  partido simpático ao vice-prefeito petista Hildebrando Ferreira está ao  lado de Moizes da Costa (PDT).

Em Feira de Santana, entretanto, é o petista Zé Neto  quem fatura com a infidelidade de militantes de outros partidos. Na  noite de terça-feira, ele recebeu o apoio público de integrantes do PMDB  e PPS de Feira, partidos coligados ao candidato do DEM, Zé Ronaldo.

Correio

 

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