O fato de Luiz Gonzaga ser o Rei do Baião, considerado o principal representante e divulgador da música nordestina e de o Brasil inteiro aclamá-lo este ano, graças a seu centenário, já seriam razões suficientes para render-lhe tributos. No entanto, as três passagens do Velho Lua na festa mais popular do semiárido baiano, o São João de Senhor do Bonfim(376 km de Salvador), foram determinantes para que o músico ganhasse uma estátua em sua homenagem.

Com aproximadamente dois metros de altura, esculpida em pedra (Xisto Biotita), a escultura assinada pelo artista plástico baiano Florinaldo Souza dos Santos, mais conhecido como Galego, foi encomendada pelo prefeito de Senhor do Bonfim, Paulo Machado que pediu urgência na produção da obra, que segundo Galego, em tempos habituais, “levaria mais do que dois meses para ficar pronta”.

A pressa do governo municipal tinha prazo. O São João urgia e era preciso apresentar ao povo o resultado. A escultura foi inaugurada no dia 21 de junho na entrada do Parque da Cidade, onde fica o Espaço Gonzagão, circuito oficial das festas de São João, da Capital Baiana do Forró, como também é conhecida Senhor do Bonfim.

Bonfim destaca o rei na Bahia – Após a inauguração constatou-se que a estátua do Parque da Cidade é a única da Bahia que se tem notícia, fato que coloca o estado, entre os poucos do País, que possuem um monumento em reverência a Luiz Gonzaga. Senhor do Bonfim então passou a integrar o conjunto dos 12 municípios, nos quais se encontram manifestações artísticas dessa natureza.

Recife, Caruaru, Gravatá (PE); Campina Grande (PB); Aracajú, Canindé de São Francisco (SE); Juazeiro do Norte, Fortaleza, Crato (CE), São Paulo (SP) e o Rio de Janeiro, na Feira de São Cristóvão, têm cravadas em seus logradouros esculturas, feitas de bronze, granito ou cimento.

 

Aqui, também eternizado  –  O sobrinho do Rei do Baião, Joquinha Gonzaga, herdou do tio a habilidade com a sanfona e hoje viaja o País tocando seus sucessos. Durante seu show no Espaço Gonzagão este ano, Joquinha fez uma revelação que surpreendeu o público que o assistia: “Nem em Exú tem uma estátua dessa de Luiz Gonzaga!” – contou.

Na mesma ocasião o prefeito Paulo Machado, entregou a Joquinha uma placa que agora compõe o acervo do Museu de Luiz Gonzaga, em Exú (PE), em reconhecimento à importante contribuição do famoso sanfoneiro para a cultura nordestina e às suas apresentações que marcaram os festejos juninos de Senhor do Bonfim, nos quais, afirma-se que o artista realizou sua última apresentação na Bahia, há 24 anos.

 

“Ele participou de diversos ‘sanjoões’ locais. Fotografias, recortes de jornais e registros outros dão testemunho das vezes em que o nosso sempre idolatrado Rei do Baião pisou em terras bonfinenses. Segundo depoimento insuspeito, ele chegou a apresentar-se até mesmo em cima de caminhão. Sua última apresentação foi no dia 18 de junho de 1988, o último ano em que participou dos festejos juninos, pois logo viria a adoecer, ficando impossibilitado de participar de shows e de fazer o que mais gostava: cantar e tocar sanfona” – atestou em sua pesquisa, o presidente da Academia de Letras de Senhor do Bonfim (ACLASB), José Gonçalves.

O fotógrafo Mauro Coelho, conhecido pelo extenso acervo fotográfico de personalidades da música popular brasileira e da história bonfinense é um dos “insuspeitos” mencionados por José Gonçalves. O contato direto com o próprio Gonzaga e sua convivência com personagens que participaram do círculo de amizades do sanfoneiro na cidade, sustentam a informação de que o cantor esteve mais de dez vezes em Senhor do Bonfim.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Registros de sua última estada na Capital Baiana do Forró estão fixados, desde 2006, nas paredes da Pousada Senhor do Bonfim. Fotografias e o texto intitulado Luiz Gonzaga, escrito por Dr. Nequinho e Mauro Coelho revelam traços desta história.

“Aqui na cidade de Senhor do Bonfim, neste pedaço de chão do Nordeste da Bahia, onde ele tanto tocou, cantou e sorriu, onde deixou tantos amigos fiéis e leais – Altino Santos, Aurélio da Bonfinense, José Coelho, Dr. Pedro Amorim e amigos outros que viviam mais próximos de sua intimidade: Dr. Nequinho e Mauro Coelho. Quanta lembrança pela sua última passagem por aqui, já doente, mas o espírito vivo, não esquecendo de distribuir afeto, carinho e abraços especiais que até hoje doem na nossa lembrança, dormitam na nossa saudade” – traz o texto.

 

Tião e o Rei do Baião – Desde que chegou a Senhor do Bonfim, há 40 anos, Sebastião Manoel da Silva (72) atende pela alcunha de Tião do Acordeom, o sanfoneiro mais requisitado dos festejos juninos do município.

Nascido em São Joaquim do Monte (PE), a “oito léguas de Caruaru pra lá”, o sanfoneiro revela que sua música nasceu de um encontro com Luiz Gonzaga, quando Tião tinha apenas 12 anos de idade.

 

“Era nove hora da noite, ele tava tocando sentando num tamborete, em Bonito, Pernambuco. Todo mundo tava batendo palma. Eu cheguei e perto dele fiquei. Quando foi uma hora da madrugada ele chegou pra mim e disse:

‘Venha cá, você pode ficar com a sanfona aqui, enquanto que vou tomar um café?

Posso, eu disse.

Não deixe ninguém pegar.

Deixo não’.

Quando ele chegou tava “tocando” Asa Branca. Tâna-nâna-nâna-nâna-nâna-nâna-nâ-nâ-nâ” – vocalizou Tião.

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